5/02/2024

Eclesiastes: Tempo para tudo

 

Tempo para tudo (3:1–15)

Eclesiastes 3 contém um poema famoso. O Pregador escreve que há um tempo para tudo: “tempo de nascer e tempo de morrer” (3:2). Ele lembra ao leitor que existem estações e tempos adequados para tudo na terra. Embora Deus tenha ordenado a criação desta forma, ele também colocou um desejo de eternidade no coração de cada pessoa. O Pregador conclui que o verdadeiro propósito desta busca é que as pessoas descubram Deus, cujas obras duram para sempre.

A realidade de que “tudo é vaidade” deveria levar as pessoas a se refugiarem em Deus, cuja obra dura para sempre (3:14). A falta de sentido da vida convoca as pessoas a temerem a Deus.

DEUS FEZ TUDO BONITO. Deus, e não nós, é quem, em última análise, torna as coisas belas (3:11). Embora isso possa trazer desespero, também pode trazer alívio. Não depende de nós – é tudo uma questão da graça de Deus. Somos obra sua (Efésios 2:10; veja Filipenses 1:6). O nosso trabalho pertence, em última análise, ao tempo de Deus, não ao nosso — o seu trabalho é o que em última análise importa e, por extensão, aquele em que ele nos permite participar. Dentro desta participação, somos capazes de criar belos produtos culturais, mas essas obras de arte e engenhosidade devem servir como indicadores para uma beleza que transcende a cultura. Porque fomos feitos à imagem de um Deus lindo que cria coisas lindas, nós também somos capazes de criar coisas lindas à nossa maneira de criatura.

UM TEMPO PARA TUDO. Eclesiastes 3:1–15 lista vários tempos e épocas em pares. Este é o ritmo de vida humana que Jesus viveu na sua encarnação. Num exemplo particular, relativo à morte de Lázaro (João 11), Jesus atrasa a sua resposta por dois dias para que a morte de Lázaro pudesse encontrar o seu “momento” e pudesse então ser o meio da glorificação de Cristo diante dos seus discípulos. No entanto, na sequência deste atraso planejado surge uma torrente de tristeza e perda tão palpável que o próprio Jesus se vê envolvido nela. Ele convocou Maria, e ela vem, junto com todos aqueles que amavam Lázaro e agora choram sua perda. Somos informados duas vezes que Jesus, embora forte e seguro, está profundamente comovido em seu espírito. Ele está perturbado e desfeito. Ele fica cara a cara com a morte em toda a sua finalidade e tristeza.

Outros tempos e estações também estão presentes neste episódio: tempo de luto, tempo de amarrar bandagens, tempo de despedida, tempo de abraçar e tempo de lançar pedras, enquanto a grande pedra sela o túmulo de um homem morto por quatro dias. Sempre triunfante e tão incrivelmente forte e seguro de suas próprias faculdades, vemos o próprio Senhor Jesus em seu momento de choro. Em todos os tempos e estações sob o céu, ele está lá. Para entrar plenamente na nossa condição humana, Cristo teve que passar por todos os momentos e épocas que passamos, e isso significou suportar um tempo de tristeza e perda.

Mas acima de tudo, dados os nossos medos e as nossas necessidades, Jesus está presente nos nossos tempos e épocas de perda, sede, fome, morte, luto - mesmo durante a noite, quando a mente dispara, como observa o Pregador (Eclesiastes 2:23). Ele não chegou tarde demais, como presumem Maria e Marta. Ele chegou na hora certa. Sua hora e estação chegaram. E eles têm nossos nomes neles. No ministério de Jesus, vemos Deus buscando aquelas partes de nós que acham difícil ouvir, difíceis de aceitar, e as partes que recuam do pecado, desespero ou medo. Mas em Cristo, Deus se aproxima e entende, e, no Espírito Santo, Deus está aqui e nos chama.

NÃO SE PREOCUPE COM O AMANHÃ. A ênfase nesta passagem no fundamento seguro da obra de Deus está ligada ao tema bíblico de não se preocupar com o amanhã (Mateus 6:34; Tiago 4:13-15). Deus coopera todas as coisas para o bem (Romanos 8:28), incluindo nossas próprias boas obras (Efésios 2:10), e sua palavra não voltará para ele vazia (Isaías 55:11; veja Eclesiastes 3:14). Deus trabalha em nós para “querer e realizar segundo a sua boa vontade” (Filipenses 2:13; ver 1:6), capacitando-nos a fazer tudo no devido tempo, como ecoa na ordem de Paulo de “alegrar-nos com os que se alegram e choram”. com os que choram” (Romanos 12:15).

O TEMPO DE DEUS. Embora o tempo de Deus nem sempre seja o nosso, é sempre melhor e suficiente para tudo o que deve ocorrer neste mundo caído. Não somos necessariamente infiéis ou amaldiçoados por causa do sofrimento que enfrentamos nesta vida. Embora seja verdade que enfrentaremos dificuldades por causa da maldição (Gn 3:16-19), podemos enfrentar tudo isso com o entendimento de que o Deus da graça cronometrará todas as coisas como ele sabe melhor. Ao lermos o Antigo Testamento, podemos ver que o que poderia parecer um esquecimento da parte de Deus era na verdade parte de uma grande preparação. Jesus também viria na “plenitude dos tempos” (Gálatas 4:4-5) para cumprir o plano de salvação perfeitamente cronometrado de Deus (Marcos 1:15; João 7:30; 13:1; ver Romanos 5:6). Para os cristãos, o propósito do tempo é ser “conformado à imagem de seu Filho” (Romanos 8:29). Tal conformidade alegra mesmo nos sofrimentos, sabendo que todos os momentos da nossa vida “contribuem” para o nosso bem (v. 28). Mesmo agora, aguardamos ansiosamente o regresso de Cristo, num momento que ninguém sabe. Mas somos informados de algo sobre o tempo (Apocalipse 19:11-21) e podemos aguardar seu aparecimento glorioso.

SOBERANIA DIVINA. Deus está sempre pessoalmente envolvido com sua criação, sustentando-a e preservando-a, agindo dentro dela para realizar seus objetivos perfeitos. Tudo o que acontece está sob o controle de Deus. Ele “faz todas as coisas segundo o conselho da sua vontade” (Efésios 1:11). Seu domínio providencial está sobre todas as coisas (Provérbios 16:9; 19:21; Tiago 4:13–15), incluindo reis e reinos (Provérbios 21:1; Dan. 4:25) e os tempos e lugares exatos em que as pessoas vivem (Atos 17:26). Em Atos 4:23–31, a soberania de Deus, mesmo ao predeterminar a crucificação (4:24, 27–28), incentiva a oração e a confiança (4:29–30). Como Jesus reina supremo, é ele quem aborda nossas necessidades.

CRIATURAS NO TEMPO. Como seres físicos, somos incapazes de escapar dos limites do tempo. O tempo passou a existir no primeiro dia da criação, quando Deus separou os períodos de escuridão e de luz e deu nomes a cada um deles (Gn 1:3-5). O homem foi criado e colocado dentro dos limites do tempo, não como um castigo, mas como um ato de graça comum para acompanhar a sua realidade criatural. É somente por causa da queda no pecado que o tempo agora trabalha contra nós, contando os momentos até a nossa morte. Mas nos novos céus e na nova terra, o tempo voltará a ser simplesmente uma dádiva graciosa que podemos usar para nosso desfrute. Por sermos criaturas limitadas pelo tempo, podemos fazer música (Gn 4:21-22) e dançar (Eclesiastes 3:4), e nos novos céus e nova terra continuaremos a fazer tanto para a glória de Deus como para nosso bem.


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